domingo, 5 de junho de 2011

O PAPEL DA ESCOLA NA ERRADICAÇÃO DO MONOLINGÜISMO




Ricardo Schütz



O que tem ocorrido ao longo do tempo é que a responsabilidade sobre o papel formador das aulas de Línguas Estrangeiras tem sido, tacitamente, retirado da escola regular e atribuído aos institutos especializados no ensino de línguas. Assim, quando alguém quer ou tem necessidade, de fato, de aprender uma língua estrangeira, inscreve-se em cursos extracurriculares, pois não se espera que a escola média cumpra essa função.

Às portas do novo milênio, não é possível continuar pensando e agindo dessa forma. É imprescindível restituir ao Ensino Médio o seu papel de formador. Para tanto, é preciso reconsiderar, de maneira geral, a concepção de ensino e, em particular, a concepção de ensino de Línguas Estrangeiras.

... o Ensino Médio possui, entre suas funções, um compromisso com a educação para o trabalho. (Parâmetros curriculares nacionais, códigos e suas tecnologias. Língua estrangeira moderna. Brasília: MEC, 1999. pp 49-63.)

Es por esto, que las escuelas deben de considerar un desarrollo multicultural en sus salones de clase para proveer un ambiente social que apoye el aprendizaje del niño y la adquisisión de un segundo idioma. (Anna I. Escalante, St. Thomas University, Houston TX 05/1997).



INTRODUÇÃO



A atual transformação do mundo em direção a uma comunidade globalizada é mais rápida do que parece. No Brasil, pais conscientes das exigências deste mundo moderno e preocupados em proporcionar o melhor para seus filhos, precisam hoje gastar, além dos cerca de 4.000 reais por ano de escola secundária particular, mais 1.200 em cursos de inglês. As escolas, por sua vez, sem terem uma visão clara de o que significa "aprender inglês", e insistindo numa abordagem ao ensino de línguas inspirada ainda em metodologia do início do século, comprovadamente ineficaz, deixam de cumprir plenamente com suas atribuições: a de proporcionar as qualificações básicas necessárias ao indivíduo de uma sociedade em processo de globalização irreversível.



FATOS A SEREM CONSIDERADOS:



Fluência na língua da comunidade global, além de ser um instrumento indispensável nas carreiras acadêmica e profissional do homem moderno, é também aptidão multicultural e capacidade de interpretar a realidade sob diferentes prismas, representando portanto desenvolvimento intelectual.

O período ideal para tornar a pessoa bilingüe é a infância e a adolescência. Estudos no campo da neurolingüística, da psicologia e da lingüística já demonstram que, por fatores de ordem biológica e psicológica, quanto mais cedo, melhor. O ritmo de assimilação das crianças não só é mais rápido, como seu teto, mais alto.

Assim como o local ideal para se aprender tênis e futebol é a cancha e o campo, e para se aprender química é o laboratório, ambientes ideais para o aprendizado de línguas são centros de convívio multiculturais.

A criança, muito mais do que o adulto, precisa e se beneficia de contato humano. Crianças têm grande resistência ao aprendizado formal, artificial e dirigido. Elas só procuram assimilar e fazer uso da língua estrangeira em situações de autêntica necessidade, desenvolvendo sua habilidade e construindo seu próprio aprendizado a partir de situações reais de interação em ambiente da língua e da cultura estrangeira. Ao perceberem que a pessoa que deles se aproxima fala sua língua materna, dificilmente se submetem à difícil e frustrante artificialidade de usar outro meio de comunicação. A autenticidade do ambiente é mais importante do que o caráter (lúdico ou não) das atividades, e ambos, indiscutivelmente, são mais importantes do que qualquer planificação didática prédeterminada.

Os pais e a sociedade em breve estarão a exigir, principalmente daquelas escolas particulares cujas receitas não justificam nenhuma postergação, que cumpram com a obrigação que lhes compete: proporcionar todas as qualificações básicas necessárias ao indivíduo da sociedade moderna, inclusive fluência em língua estrangeira.

Existe plena viabilidade econômica. A proliferação em cadeia de cursos de inglês, com lojas abrindo em cada esquina, em cidades grandes e pequenas, freqüentemente caracterizadas pela improvisação e pelo amadorismo, e custando de R$1000 a R$1200 por semestre (mais de 20% do total dos encargos educacionais), demonstra a viabilidade econômica da criação de departamentos de educação bilingüe ou de centros de convívio e de intercâmbio lingüístico e cultural dentro da própria escola. Pais conscientes das exigências imediatas do mundo moderno hoje precisam confiar seus filhos às mãos de instrutores nem sempre qualificados ou nem sempre bem remunerados. O que hoje é uma oportunidade de mercado normalmente explorada por investidores oportunistas, pode e deve gradativamente passar a ser gerenciado por profissionais com competência acadêmica, de preferência dentro da própria escola que o jovem já freqüenta.

CONCLUSÃO



Compete portanto às escolas de Ensino Fundamental e Médio criar centros de convívio que proporcionem ambientes multiculturais de language acquisition para complementar o ensino convencional de inglês (fortemente inspirado em language learning) já normalmente oferecido. Esses centros de convívio em língua estrangeira devem contar com a participação de falantes nativos na coordenação das atividades, e podem ser complementados com convênios junto a escolas no exterior e programas de intercâmbio cultural. Tais centros de language acquisition poderiam vir a servir como etapa intermediária no processo de implementação de educação bilíngüe, onde determinadas matérias do currículo escolar são ministradas em língua estrangeira, a exemplo das escolas internacionais encontradas nos grandes centros.



Schütz, Ricardo. "O Papel da Escola na Erradicação do Monolingüismo." English Made in Brazil . Online. 05 de junho de 2011.

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